quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A morte me cai bem

Ao contrário do que muita gente imagina, eu morri. Morri bem morridinho. Lamento informa-los, também sinto muito, mas não suporto mais conviver com essa mentira. Aproveito também para esclarecer que a Elis também se foi. Desculpe se te magoei. Tente aceitar, não há nada que eu posso fazer para reverte essa situação. A primeira vez que senti ter passado para o outro lado, foi ainda antes de morrer. Lembro como se fosse hoje. Eu respondi a uma anuncio de classificados que procuravam três Elvis para eventos e bailes de formatura. No início reagi mal. Três Elvis, como assim? Priscila que não me agüentava mais me ver Graceland sem fazer nada disse: vai, assim você se distrai. Grande erro. Não fiquei nem na primeira triagem, fui recusado pelo excesso de peso. Tentei alegar que quanto mais bizarro o tipo de Elvis, mais legal para o público. Pô, meu tipo tem muito haver com a cultural caricata de Elvis, disse eu. Mas o agente selecionador achou minha obesidade meio mórbida. Priscila insiste que eu exagerei na roupa, disse que minha imitação estava muito caricata, meio grotesca. Para levantar minha moral chamou de LA um personal Presley, um tipo que dá treinamento para melhor a performance de Elvis dos famosos e indinheirados.
O trabalho desse sujeito, segundo Priscila, é muito sério e considerado, ele inclusive dá treinamento de Elvis em empresas, faz tipo assim um workshop de integração, para o pessoal ter mais jogo de cintura. Bom, achei a idéia meio estúpida, mas como eu não estava comparecendo, aceitei a proposta de Priscila para não contrariá-la. O que foi outro grande erro. Meu personal Presley se mostrou um tipo impaciente com minha dificuldade de encarnar o personagem. Além de um pouco picareta, pois recusou o whisky e os meus coquetéis especiais. Entre as recomendações que me fez, estava a de, ao dançar, não bater as botas, coisa que fiz mais adiante só para implicar. Como era de se esperar, a coisa não deu certo. Dois dias depois ele jogou na minha cara que até o Roberto Carlos tem mais balanço no corpo, fez as malas e voltou a LA para continuar as aulas com Zé Dirceu.
Estar morto é uma porcaria. Não me serve de consolo ter entrado para a cultura popular como ícone pop. Eu preferia estar na ativa. Aliás, muitos se perguntam o que eu estaria fazendo hoje se estivesse vivo. Eu respondo: estaria tentando abrir a tampa do caixão. Desculpe a piada de mau gosto, que por sinal nem é minha, essa foi o Ayrton Senna quem me contou, a quem eu conheci de passagem ou ultrapassagem (essa é minha).
Agora falando sério, eu acho o seguinte: no final da vida eu cantei nos principais Casinos do mundo. Acho que a evolução seria me apresentar na NY Exchange, Nasdaq, Bovespa,etc. Pelo menos até o mês passado.

Para finalizar esse post de forma otimista, quero dizer que a morte nem é tão ruim, outras pessoas já passaram por isso. Ruim mesmo é a situação do Vasco da Gama.